RECICLAGEM DE MÃDIAS: PORQUE NÃO RECICLAR?

Felipe Dias Baumgratz, Rafael Hisashi Zanetti Kido, William Fernando dos Santos

Resumo


Este trabalho tem por objetivo avaliar um ramo da reciclagem que não é bem difundida no país, a reciclagem de mídias de armazenamento tendo como foco, CD, DVD e disquetes, que são muito usados pela população em geral. Foram feitas entrevistas com pessoas da comunidade acadêmica e com empresas que fazem esse tipo de reciclagem para assim ser feita uma análise. Das 5 empresas do exterior que foram entrevistadas (via e-mail), apenas uma respondeu. A Earthology nos informou que eles não reciclam o dispositivo de armazenamento em si, na verdade coletam caixas usadas, limpam e colocam novos CD’s e DVD’s dentro delas e as vendem. Pode não parecer muito à primeira vista, mas as caixas existem na mesma proporção de CD’s, portanto, têm seu valor. Foram contatadas também empresas da região metropolitana de Campinas e foram obtidos resultados muito diversificados, o que na verdade é surpreendente uma vez que se esperava uma convergência de respostas uma vez que o trabalho é o mesmo: coleta para reciclagem. Porém, em um dos itens da entrevista que versava sobre a porcentagem de participação do produto na receita da empresa, os resultados mostram uma convergência: as mídias correspondem por volta de 2-4%, somente, do montante que é recebido nos centros de coleta e cooperativas. Segundo a CRT Reciclagem, eles recebem 40kg semanais do produto. Outras empresas, como a Europlast, informaram que não reciclam mídias porque simplesmente não é o tipo de material (PS, PC) que é usado em veículos automotores. A grande maioria das empresas do ramo se encarrega apenas do lixo reciclável comum, não dando qualquer tratamento especial às mídias ou equipamentos de informática em geral. Resultados encorajadores foram obtidos com a empresa Aquimetal, localizada no município de Indaiatuba. Eles trabalham diretamente com grandes empresas participando de leilões de equipamentos de informática obsoletos, recolhendo lotes de computadores, impressoras, dentre outros, incluindo as mídias de armazenamento, dando assistência apropriada na separação dos materiais componentes, encaminhamento para as firmas de beneficiamento dos resíduos. Por se tratar de equipamentos que muitas vezes possuem metais pesados e outros componentes nocivos à saúde e ao meio ambiente, a Aquimetal faz o encaminhamento dos resíduos à CETESB, que então dá o fim apropriado ao produto. Apesar dos resultados animadores, não há ainda o trabalho feito com a comunidade em geral devido ao baixo volume de material que pode ser conseguido, representando baixo retorno à empresa. Outra empresa, a Cimelia Reciclagem informou que o destino dos produtos eletro-eletrônicos dela era Cingapura. Nas entrevistas com a comunidade discente da UNICAMP (n=70) observou-se que há uma grande utilização de mídias, principalmente de DVD’s. Isso ocorre devido ao aumento da facilidade do acesso a este tipo de mídia e vantagens dela em relação às outras. Por exemplo, em um DVD, podemos gravar 4700 megabytes, já em um CD apenas 700 megabytes e em um disquete apenas 1,44 megabytes, como o preço dos três é aproximadamente o mesmo compensa muito mais comprar um DVD. No Brasil 16,6% dos brasileiros possuem computadores, que dependendo dos seus componentes adicionais permite acesso a DVD’s, CDs e disquetes, isso representa uma fatia considerável da população brasileira (aproximadamente 29 milhões de pessoas), então pode-se imaginar quantos CD’s ou DVD’s são jogados fora. Só na gravação 10% a 20% das mídias são perdidas e ainda devem-se contar as mídias velhas que acabam sendo descartadas por não terem mais utilidade ou estragarem, hoje em dia na grande maioria dos casos essas mídias são jogadas no lixo comum, sendo que poderiam ser recicladas com um ótimo aproveitamento do material. Foi constatado que 97% dos entrevistados separariam as mídias do resto do lixo para ser reciclado, mas para isso deveria existir um sistema de coleta eficiente, pois a grande maioria dos entrevistados que concordou em separar enfatizou que só fariam isso caso descartar para reciclagem não fosse algo trabalhoso. Assim, conclui-se que é possível tomar providências na direção da produção, distribuição e consumo sustentáveis das mídias. São necessários incentivos para que o material seja efetivamente transformado em nova matéria-prima. Outra seria providência seriam mudanças na legislação de âmbito nacional, seguindo os exemplos de Paraná e Rio Grande do Sul, de forma a responsabilizar e taxar os fabricantes e distribuidores, aliada à fiscalização para que as leis vigentes possam ser respeitadas, educação para o uso consciente, dispor nas embalagens dos produtos informações sobre como podem ser reciclados ou reutilizados. O relatório CD-R & CD-RW Questions e Answers (OSTA-1997), esclarece ainda que para “cada tonelada de CD-R que é reciclado podem ser recuperados 984 Kg de plástico de policarbonato, 113 gramas de tintura, 1.316 Kg de ouro e 15 Kg de revestimento e material impresso. O policarbonato pode ser usado para moldar produtos reciclados e o ouro pode ser refinado em um processador de ouroâ€. Ou seja, o aproveitamento da mídia é altíssimo, mostrando que o que realmente falta é boa vontade política aliada à responsabilidade social e econômica que é vinculada à reciclagem, assim como é feito hoje com o papel, alumínio e garrafas PET.

Palavras-chave


reciclagem, plástico, óxido de ferro, CD, disquete.

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